Ficha Unidade Curricular (FUC)
Informação Geral / General Information
Carga Horária / Course Load
Área científica / Scientific area
Ciência Política
Departamento / Department
Departamento de Ciência Política e Políticas Públicas
Ano letivo / Execution Year
2025/2026
Pré-requisitos / Pre-Requisites
Não se aplica.
Objetivos Gerais / Objectives
Esta Unidade Curricular (UC) visa familiarizar os alunos com diversas problemáticas que têm dominado o debate teórico na Ciência Política (CP) contemporânea. Pretende, por um lado, fornecer aos alunos referências teóricas e conceptuais estruturantes desta área científica, e, por outro, contextualizar alguns dos principais debates e controvérsias da literatura contemporânea da CP. A UC estrutura-se em duas partes: PARTE I: - Os debates sobre representação política e ideológica; os processos de deliberação democrática e o papel da opinião pública na tomada de decisão política; e a ideologia nas democracias liberais, respetiva importância e validade. PARTE II. - Participação Política: tipologias e inovação; Participação Eleitoral: factores explicativos e estratégias de incentivo; Comportamento Eleitoral: dos modelos clássicos aos debates contemporâneos.
Objetivos de Aprendizagem e a sua compatibilidade com o método de ensino (conhecimentos, aptidões e competências a desenvolver pelos estudantes) / Learning outcomes
No final da UC os estudantes deverão ser capazes de reconhecer a diversidade prevalecente nos sistemas políticos democráticos contemporâneos, e de enunciar alguns dos seus principais problemas e desafios. Deverão também conseguir reconhecer diferentes orientações e análises científicas, assim como posições divergentes entre as correntes de pensamento principais da Ciência Política contemporânea. Por fim, os estudantes deverão conseguir identificar alguns dos tópicos centrais da pesquisa nesta área científica, em que prevalecem ambiguidades e/ou lacunas, em que assentam algumas dos principais debates e controvérsias actuais da disciplina.
Conteúdos Programáticos / Syllabus
PARTE I. REPRESENTAÇÃO, DELIBERAÇÃO E IDEOLOGIA NAS DEMOCRACIAS LIBERAIS 1. Representação política e ideológica: modelos teóricos, partidos políticos, e sistemas eleitorais 2. Deliberação colectiva e opinião pública: contributos para a democracia 3. O discurso do fim da ideologia e a dicotomia esquerda-direita: persistência e validade, novas e velhas clivagens PARTE II. PARTICIPAÇÃO POLÍTICA E COMPORTAMENTO ELEITORAL 1. Participação Política: tipologias e inovação 2. Participação Eleitoral: factores explicativos e estratégias de incentivo 3. Comportamento Eleitoral: dos modelos clássicos aos debates contemporâneos
Demonstração da coerência dos conteúdos programáticos com os objetivos de aprendizagem da UC / Evidence that the curricular unit's content dovetails with the specified learning outcomes
Os conteúdos programáticos são coerentes com os objectivos da UC uma vez que visam um conjunto de problemáticas (problemas, desafios, orientações, análises e correntes de pensamento) inerentes aos sistemas políticos democráticos contemporâneos, com o propósito de ilustrar o estado do debate e da controvérsia sobre questões centrais da Ciência Política contemporânea.
Avaliação / Assessment
A avaliação ao longo do semestre apoia-se em 3 elementos fundamentais: 1º - Assiduidade e participação nas aulas, nomeadamente no debate dos textos apresentados (assiduidade mínima exigida: 70% das aulas) ponderação de 20% para a média final; 2º - Apresentação oral de artigo (s)/ capítulo(s) na aula ponderação de 30%; 3º - Elaboração de um trabalho escrito de revisão bibliográfica sobre uma das temáticas analisadas, de acordo com as orientações dadas em sala, ponderação de 50%.
Metodologias de Ensino / Teaching methodologies
As aulas são subdivididas em aulas de exposição/debate da matéria, podendo contemplar a discussão de futuros projectos de investigação (aulas teórico-práticas), e aulas de apresentação e comentário de textos pelos alunos (aulas práticas). É esperado dos estudantes a realização de trabalho autónomo, mediante as leituras recomendadas semanalmente com vista a alimentar o debate em que se apoiam as aulas teórico-práticas, assim como mediante a leitura dos textos previstos para as apresentações orais individuais por nas aulas práticas (que devem ser idos por todos os alunos e não apenas pelos que apresentam).
Demonstração da coerência das metodologias de ensino e avaliação com os objetivos de aprendizagem da UC / Evidence that the teaching and assessment methodologies are appropriate for the learning outcomes
A coerência das metodologias de ensino com os objectivos de aprendizagem é assegurada pela focagem das aulas teóricas nos grandes eixos da divergência e discussão em torno dos temas referidos no programa, eixos que ressurgem nos textos de autores contemporâneos consagrados selecionados, quer para as apresentações orais e debates, quer para os trabalhos finais.
Observações / Observations
Durante as aulas serão dadas orientações essencialmente teóricas sobre potenciais tópicos de investigação relacionados com as temáticas leccionadas. Nas aulas decorrerão actividades diversas, as quais são enquadradas pelos docentes, requerendo-se dos alunos sobretudo leitura prévia dos textos, atenção e questionamento crítico, bem como participação activa nas discussões dos textos e na realização de outras tarefas previamente acordadas com os docentes. Para a realização das apresentações orais, os alunos devem escolher um texto ou conjunto de dois textos (de entre os contemplados nas Parte I e II), e analisá-lo criticamente, usando para tal outras referências bibliográficas relevantes da UC, ou outras. Os alunos deverão preparar uma apresentação individual de cerca de 30 minutos; outros 30 minutos serão para o debate do texto na aula. Em cada aula prática (duas horas) devem ocorrer duas apresentações orais. Para o trabalho escrito os alunos devem escolher um tema de entre o conjunto de temas das duas Partes da UC e seguir as indicações que os docentes forem fornecendo para a sua realização. Este trabalho deverá procurar identificar lacunas ou inconsistências na literatura, e ter um máximo de 10 páginas, a espaço e meio, com tudo incluído, excepto bibliografia. Para ambos os exercícios (apresentação oral e trabalho escrito) os alunos devem distribuir-se equitativamente pelas duas partes (I e II) do programa, e não devem optar pela realização de ambos os exercícios no âmbito da mesma Parte. A UC contribui para os ODS 4, 10 e 16 ao explorar tópicos como o funcionamento das instituições políticas ou a desigualdade económica e sua relação com a desigualdade política, visando a familiarização com o estado da arte da pesquisa e sensibilizando para alguns dos desafios colocados a respeito destes tópicos nos sistemas políticos contemporâneos. O objectivo último a alcançar é uma educação de qualidade. Do ponto de vista dos conteúdos a focar em ambas as partes da UC: Parte I. O primeiro semestre da UC visa tratar os tópicos da representação, deliberação e ideologia nas democracias liberais. A UC inicia com a discussão sobre o conceito de representação política, explorando os principais modelos teóricos explicativos da representação, assim como, em especial, a relevância do tipo de partido político e dos sistemas eleitorais nos níveis de congruência política e ideológica entre eleitos e eleitores nas sociedades ocidentais. O segundo tópico deste semestre aborda a deliberação democrática e sua relação com a opinião pública, visando explorar em que medida as soluções de deliberação colectiva contribuem para mitigar os problemas e limitações que se colocam actualmente à democracia representativa. O último tópico da UC respeita ao discurso do fim da ideologia, analisando-se em que aspectos tal discurso se alicerçou. Abordam-se posteriormente os fundamentos da sua superação, debatendo-se em seguida a dicotomia esquerda-direita, aferindo-se em que medida esta persiste e é valida. Por fim, analisam-se as novas explicações sobre as clivagens ideológicas, em especial as que explicam a nova configuração espacial da competição eleitoral nas sociedades ocidentais. Parte II O semestre inicia-se com uma reflexão sobre as diferentes formas de participação disponíveis aos cidadãos, incluindo os desenvolvimentos recentes potenciados pelas plataformas online. São abordados o paradoxo da participação eleitoral, os principais fatores explicativos da abstenção e as consequências da participação desigual, e visitados os debates contemporâneos sobre estratégias para incentivar a participação nas eleições. Posteriormente, o foco recai sobre as bases da formação das decisões de voto, desde os modelos clássicos até discussões atuais sobre voto “correto”, o voto “estratégico” e o papel das emoções, da exposição a fake news e das atitudes populistas. As aulas, de natureza teórico-prática, são enriquecidas com a análise de padrões empíricos da participação e do comportamento eleitoral dos cidadãos portugueses, enquadrados numa perspetiva comparada.
Bibliografia Principal / Main Bibliography
PARTE I DALTON, Russell (2019), Citizen Politics, Washington, CQ Press. KRIESI, Hanspeter; GRANDE, Edgar; LACHAT, Romain; DOLEZAL, Martin; BORNSCHIER, Simon; FREY, Timotheos (2008), West European politics in the age of globalization, Cambridge; NY: CUP. FISHKIN, James (2018), Democracy when the people are thinking, Oxford: OUP. POWELL, G. Bingham Jr. (2000), Elections as Instruments of Democracy, New Haven e Londres: Yale University Press. PARTE II Blais, A., e Daoust, J.-F. (2020). The motivation to vote: Explaining electoral participation. Vancouver: UBC Press. Dassonneville, R., Barbosa, T., Blais, A., McAllister, I. e Turgeon, M. (2023). Citizens under compulsory voting: A three-country study. Cambridge e Nova Iorque: CUP. Freire, A. (2001). Modelos do comportamento eleitoral. Lisboa: Celta Editora. Gallego, A. (2015). Unequal political participation worldwide. Cambridge: CUP. Lobo, M. C., & Espírito-Santo, A. (2024). O eleitorado português no século XXI. Lisboa: Tinta da China.
Bibliografia Secundária / Secondary Bibliography
LEITURAS COMPLEMENTARES PARTE I - REPRESENTAÇÃO, DELIBERAÇÃO E IDEOLOGIA NAS DEMOCRACIAS LIBERAIS 1. Representação Política e Ideológica: Modelos Teóricos, Partidos Políticos, e Sistemas Eleitorais ACHEN, Christopher H. e BARTELS, Larry M. (2017), Democracy for realists: Why elections do not produce responsive government, Princeton and Oxford: Princeton University Press. ANDEWEG, Rudy B. e THOMASSEN, Jacques (2005), Modes of political representation: Toward a new typology?, Legislative Studies Quarterly, xxx, 4, pp. 507-528. BELCHIOR, Ana M. (2013), Explaining left-right party congruence across European party systems. A test of micro and macro level models, Comparative Political Studies, 46(3), pp. 352-386. HUBER, J., e Powell, G. B. Jr. (1994), Congruence between Citizens and Policy Makers in Two Visions of Liberal Democracy, World Politics, 46, pp.291-326. MCDONALD, Michael, e Ian Budge (2005), Elections, Parties, and Democracy: Conferring the Median Mandate, Oxford: Oxford University Press. NAURIN, Elin, Stuart Soroka, e Niels Markwat (2019), Asymmetric accountability: An experimental investigation of biases in evaluations of governments' election pledges, Comparative Political Studies, 52(13-14), pp.2207-2234. 2. Deliberação colectiva e opinião pública: contributos para a democracia ALTHAUS, Scott L. (2003), Collective Preferences in Democratic Politics. Opinion Surveys and the Will of the People, Cambridge: Cambridge University Press. BARTELS, Larry (2016), Unequal Democracy. The Political Economy of the New Gilded Age, 2ªed., Princeton e Oxford: Princeton University Press. HOBOLT, S. B., e KLEMMENSEN, R. (2008), Government responsiveness and political competition in comparative perspective, Comparative Political Studies, 41(3), pp.309-337. MANSERGH, L. E. and THOMSON, R. (2007), Election pledges, party competition and policymaking, Comparative Politics, 39(3), pp.311-329. PAGE, Benjamin e SHAPIRO, Robert (1992), The Rational Public, Chicago: The University of Chicago Press. ZALLER, John R. (1992), The Nature and Origins of Mass Opinion, Cambridge: Cambridge University Press. 3. O discurso do fim da ideologia e a dicotomia esquerda-direita: persistência e validade, novas e velhas clivagens DALTON, Russell (2006), Social modernization and the end of ideology debate: patterns of ideological polarization, Japanese Journal of Political Science, 7(1). FLANAGAN, Scott C. e Aie-Rie Lee (2003), The new politics, culture wars, and the authoritarian-libertarian value change in advanced industrial democracies, Comparative Political Studies, 36(3), pp.235-270. FUKUYAMA, Francis (1992), O Fim da História e o Último Homem, Lisboa: Gradiva. KRIESI, Hanspeter, GRANDE, Edgar, DOLEZAL, Martin, HELBLING, Marc, HÖGLINGER, Dominic, HUTTER, Swen, e WÜEST (2012), Political Conflict in Western Europe, Cambridge, Cambridge University Press. LACHAT, Romain (2018), Which way from left ro right. On the relation between voters issue preferences and left-right orientation in West European democracies, International Political Science Review, 39(4), pp.419-435. PARTE II Alvarez, R. M., Kiewiet, D. R., & Núñez, L. (2018). A taxonomy of protest voting. Annual Review of Political Science, 21(1), 135-154. Bengtsson, Å. (2004). Economic voting: The effect of political context, volatility and turnout on voters’ assignment of responsibility. European Journal of Political Research, 43(5), 749-767. Bronner, L., & Ifkovits, D. (2019). Voting at 16: Intended and unintended consequences of Austria's electoral reform. Electoral Studies, 61, 102064. Cancela, J., Rezende-Matias, A. & Santana-Pereira, J. (2024). Abstenção em Portugal no Século XXI: Fatores explicativos da participação nas eleições legislativas em perspetiva longitudinal. Em M. Costa Lobo e A. Espírito Santo (Eds.), O Eleitorado Português no Século XXI (pp. 25-49). Tinta-da-China. Cantarella, M., Fraccaroli, N., & Volpe, R. (2023). Does fake news affect voting behaviour?. Research Policy, 52(1), 104628. Dassonneville, R., Feitosa, F., Hooghe, M., & Oser, J. (2021). Policy responsiveness to all citizens or only to voters? A longitudinal analysis of policy responsiveness in OECD countries. European Journal of Political Research, 60(3), 583-602. Dekoninck, H., & Schmuck, D. (2022). The mobilizing power of influencers for pro-environmental behavior intentions and political participation. Environmental Communication, 16(4), 458-472. Eichhorn, J., & Bergh, J. (2021). Lowering the voting age to 16 in practice: Processes and outcomes compared. Parliamentary Affairs, 74(3), 507–521. Freire, A., & Turgeon, M. (2020). Random votes under compulsory voting: Evidence from Brazil. Electoral Studies, 66, 102168. Fournier, P., Nadeau, R., Blais, A., Gidengil, E., & Nevitte, N. (2004). Time-of-voting decision and susceptibility to campaign effects. Electoral Studies, 23(4), 661-681. Godbout, J. F., & Turgeon, M. (2019). The preferences of voters and non-voters in Canada (1988–2008). In P. J. Loewen e D. Rubenson (Eds.), Duty and Choice: The Evolution of the Study of Voting and Voters (pp. 81-104). Toronto: University of Toronto Press. Goodman, N., McGregor, M., Couture, J., & Breux, S. (2018). Another digital divide? Evidence that elimination of paper voting could lead to digital disenfranchisement. Policy & Internet, 10(2), 164-184. Gronke, P., Galanes-Rosenbaum, E., Miller, P. A., & Toffey, D. (2008). Convenience voting. Annual Review of Political Science., 11(1), 437-455. Harff, D., & Schmuck, D. (2023). Influencers as empowering agents? Following political influencers, internal political efficacy and participation among youth. Political Communication, 40(2), 147-172. Jacobs, L., Close, C., & Pilet, J. B. (2025). The angry voter? The role of emotions in voting for the radical left and right at the 2019 Belgian elections. International Political Science Review, 46(1), 144-159. Jeroense, T., & Spierings, N. (2023). Political participation profiles. West European Politics, 46(1), 1-23. Kim, D. H., & Ellison, N. B. (2022). From observation on social media to offline political participation: The social media affordances approach. New Media & Society, 24(12), 2614-2634. Kostelka, F., Singh, S. P., & Blais, A. (2024). Is compulsory voting a solution to low and declining turnout? Cross-national evidence since 1945. Political Science Research and Methods, 12(1), 76-93. Lau, R. R., Patel, P., Fahmy, D. F., & Kaufman, R. R. (2014). Correct voting across thirty-three democracies: A preliminary analysis. British Journal of Political Science, 44(2), 239-259. Lewis-Beck, M. S., & Paldam, M. (2000). Economic voting: an introduction. Electoral Studies, 19(2-3), 113-121. Loew, N., & Faas, T. (2019). Between thin-and host-ideologies: How populist attitudes interact with policy preferences in shaping voting behaviour. Representation, 55(4), 493-511. Marcos-Marne, H., Plaza-Colodro, C., & Freyburg, T. (2020). Who votes for new parties? Economic voting, political ideology and populist attitudes. West European Politics, 43(1), 1-21. Meffert, M. F., & Gschwend, T. (2011). Polls, coalition signals and strategic voting: An experimental investigation of perceptions and effects. European Journal of Political Research, 50(5), 636-667. Ruess, C., Hoffmann, C. P., Boulianne, S., & Heger, K. (2023). Online political participation: the evolution of a concept. Information, Communication & Society, 26(8), 1495-1512. Sabucedo, J. M., & Arce, C. (1991). Types of political participation: A multidimensional analysis. European Journal of Political Research, 20(1), 93-102. Smets, K., & van Ham, C. (2013). The embarrassment of riches? A meta-analysis of individual-level research on voter turnout. Electoral Studies, 32(2), 344–359. Stockemer, D. (2017). What affects voter turnout? A review article/meta-analysis of aggregate research. Government and Opposition, 52(4), 698-722. Theocharis, Y., Boulianne, S., Koc-Michalska, K., & Bimber, B. (2023). Platform affordances and political participation: how social media reshape political engagement. West European Politics, 46(4), 788-811. Van Deth, J. W. (2014). A conceptual map of political participation. Acta Politica, 49, 349-367. Ward, G., De Neve, J. E., Ungar, L. H., & Eichstaedt, J. C. (2021). (Un)happiness and voting in US presidential elections. Journal of Personality and Social Psychology, 120(2), 370. Zimmermann, F., & Kohring, M. (2020). Mistrust, disinforming news, and vote choice: A panel survey on the origins and consequences of believing disinformation in the 2017 German parliamentary election. Political Communication, 37(2), 215-237.
Data da última atualização / Last Update Date
2025-07-18