Sumários
Teoria de Jogos: Do normativo ao psicológico
24 Fevereiro 2025, 16:00 • Nuno Alexandre De Sá Teixeira
Introdução à Teoria de Jogos clássica. Jogos bilaterais e a sua formalização: forma normal e forma extensiva. Jogos de Soma-Zero - definição e exemplos. Noção de estratégias dominantes e dominadas, pontos de convergência e equilíbrio (de Nash). A solução (equilíbrio) de jogos de Soma-Zero com ponto de convergência pela aplicação das estratégias MaxiMin (Maximização dos ganhos mínimos). Solução de jogos de Soma-Zero sem ponto de covergência: noção de estratégias mistas (em que cada alternativa é escolhida com uma dada probabilidade) e o seu cálculo em jogos 2X2 (cada alternativa é jogada com uma probabilidade tal que o oponente fica indiferente entre uma ou outra alternativa [igual valor esperado para as alternativas]). Jogos parcialmente competitivos - definição, formalização e soluções: identificação e eliminação de alternativas dominadas. Alguns exemplos de jogos bilaterais parcialmente competitivos. As noções, centrais na Teoria de Jogos, de "conhecimento e racionalidade comuns" (cada proposição definidora de um jogo [especificação do jogo e desejo de maximização dos ganhos individuais - racionalidade] é conhecimento comum e cada jogador sabe que essas são verdade; e sabe que os outros jogadores sabem que são verdade; e sabe que os outros jogadores sabem que esse sabe que são verdade; e sabe que os restantes jogadores sabem que esse sabe que esses sabem que são verdade; e assim sucessivamente ad infinitum). Limites e paradoxos da Teoria de Jogos como Teoria Descriptiva para o comportamento humano: sistematicamente, e em vários jogos, humanos conseguem mais e melhores ganhos que o que seria teoricamente alcançável pelos trâmites "racionais" da Teoria Clássica. O caso do dilema do prisioneiro - estratégias cooperativas e competitivas e a heurística Tit-fot-Tat (escolha da estratégia competitiva como mecanismo de "punição" para desvios à cooperação). O jogo "a batalha dos sexos" e jogos de coordenação pura - a relevância dos "Pontos Focais": em jogos de coordenação, os humanos mostram-se sensíveis a alternativas socialmente salientes e alcançam níveis consideráveis de coordenação e, consequentemente, de ganhos - a violação da "Invariância" dos rótulos das alternativas permite mais e melhores ganhos do que seria expectável para jogadores estritamente "racionais". O caso do jogo da centopeia: a solução "racional" para o jogo, obtida por Indução Retrógrada (Backward Induction), prevê que o primeiro jogador pare o jogo na primeira jogada (ambos os jogadores ganham 0); os humanos tendem a cooperar iterativamente e, no final, ganham somas consideráveis. O exemplo do jogo "Concurso de Beleza": jogadores racionais, devido à assunção de "Conhecimento Comum", deveriam escolher o número 0; jogadores humanos antevêm apenas uma ou duas deduções mas, como as suas escolhas afectam o resultado do jogo, têm melhores probabilidade de ganhar que um jogador estritamente "racional". Os exemplos dos Jogo do Ultimato e Jogo do Ditador: os humanos, violando os trâmites da "racionalidade", tendem a rejeitar ofertas percebidas como "injustas" como forma de punição; antevendo isso, os jogadores tendem a fazer ofertas que possam ser tomadas como "justas". Do "como" ao "porquê" do raciocínio - processos de Tipo II como ferramenta mental argumentativa, em contextos sociais: viés de confirmação como característica de um sistema argumentativo e não como uma falha ou erro; o efeito de bónus de grupo e as suas causas e processos subjacentes.
Bibliografia:
Fundamental
Colman A. M. (2003). Cooperation, psychological game theory, and limitations of rationality in social interaction. The Behavioral and brain sciences, 26(2), 139–198. https://doi.org/10.1017/s0140525x03000050
Mercier, H., & Sperber, D. (2011). Why do humans reason? Arguments for an argumentative theory. The Behavioral and brain sciences, 34(2), 57–111. https://doi.org/10.1017/S0140525X10000968
Programa de Pesquisa de Heurísticas Rápidas e Frugais
24 Fevereiro 2025, 14:30 • Nuno Alexandre De Sá Teixeira
A agenda de pesquisa das heurísticas e viéses como ancorada na concepção clássica de "racionalidade" - os humanos recorrem a heurísticas, que conduzem a viéses e erros, devido a limitações cognitivas: as heurísticas são concebidas como a segunda melhor alternativa, sendo a primeira a racionalidade clássica (mais informação e maior poder de computação são sempre melhores e mais desejáveis). O programa de pesquisa das heurísticas rápidas e frugais (fast and frugal) de Gerd Gigerenzer como alternativa ao programa das heurísticas e viéses: à noção de racionalidade clássica opõe a noção de racionalidade ecológica; à mera identificação de heurísticas (one-label theories), opõe uma especificação dos algoritmos heurísticos (regras de pesquisa, de paragem e de decisão); à ideia de que as heurísticas resultam em viéses irracionais, salienta que as heurísticas resultam geralmente em comportamento ecologicamente racional; à definição de "racionalidade" em termos de modelos normativos, opõe a racionalidade como eficácia na adaptação ambiental; à ideia de que as heurísticas são usadas apenas devido a limitações de processamento cognitivo, opõe a noção de que as heurísticas são usadas por serem altamente eicientes e precisas quando consideradas no seu contexto ecológico. As heurísticas rápidas e frugais como assentes na concepção original de Herbert Simon da "racionalidade delimitada" (foco nas limitações cognitivas e na estrutura do ambiente) e no modelo de lente de Egon Brunswick (a questão da validade ecológica das pistas). O exemplo da heurística do olhar na interseção eficaz de um projéctil. As heurísticas concebidas não como regras-de-polegar irracionais mas como algoritmos computacionais adaptados para lidar com problemas não computáveis e/ou excessivamente complexos; oposição ao Homo Economicus do Homo Heuristicus - explora lacunas de conhecimento e estruturas de informação no mundo para maximizar a eficácia e precisão da predição. A mente humana como previligiando a precisão e eficácia preditiva, sacrificando a precisão de modelação do mundo - um modelo enviesado pode, em contextos ecológicos, resultar em melhor precisão e eficácia preditivas. Heurísticas como caixa-de-ferramentas adaptativas. O exemplo da Heurística Take-The-Best e a sua superioridade em estimativas ecologicamente relevantes face a modelos normativos.
Bibliografia:
Fundamental:
Gigerenzer, G., & Brighton, H. (2009). Homo Heuristicus: Why biaseds minds make better inferences. Topics in Cognitive Science, 1, 107-143.
Opcional:
Gigerenzer, G., & Goldstein, D. G. (1996). Reasoning the fast and frugal way: Models of bounded rationality. Psychological Review, 103, 650-669.
Gigerenzer, G. (1997). Bounded rationality: Models of fast and frugal inference. Swiss Journal of Economics and Statistics, 133, 201-218.
Teoria de Jogos: Do normativo ao psicológico
24 Fevereiro 2025, 11:00 • Nuno Alexandre De Sá Teixeira
Introdução à Teoria de Jogos clássica. Jogos bilaterais e a sua formalização: forma normal e forma extensiva. Jogos de Soma-Zero - definição e exemplos. Noção de estratégias dominantes e dominadas, pontos de convergência e equilíbrio (de Nash). A solução (equilíbrio) de jogos de Soma-Zero com ponto de convergência pela aplicação das estratégias MaxiMin (Maximização dos ganhos mínimos). Solução de jogos de Soma-Zero sem ponto de covergência: noção de estratégias mistas (em que cada alternativa é escolhida com uma dada probabilidade) e o seu cálculo em jogos 2X2 (cada alternativa é jogada com uma probabilidade tal que o oponente fica indiferente entre uma ou outra alternativa [igual valor esperado para as alternativas]). Jogos parcialmente competitivos - definição, formalização e soluções: identificação e eliminação de alternativas dominadas. Alguns exemplos de jogos bilaterais parcialmente competitivos. As noções, centrais na Teoria de Jogos, de "conhecimento e racionalidade comuns" (cada proposição definidora de um jogo [especificação do jogo e desejo de maximização dos ganhos individuais - racionalidade] é conhecimento comum e cada jogador sabe que essas são verdade; e sabe que os outros jogadores sabem que são verdade; e sabe que os outros jogadores sabem que esse sabe que são verdade; e sabe que os restantes jogadores sabem que esse sabe que esses sabem que são verdade; e assim sucessivamente ad infinitum). Limites e paradoxos da Teoria de Jogos como Teoria Descriptiva para o comportamento humano: sistematicamente, e em vários jogos, humanos conseguem mais e melhores ganhos que o que seria teoricamente alcançável pelos trâmites "racionais" da Teoria Clássica. O caso do dilema do prisioneiro - estratégias cooperativas e competitivas e a heurística Tit-fot-Tat (escolha da estratégia competitiva como mecanismo de "punição" para desvios à cooperação). O jogo "a batalha dos sexos" e jogos de coordenação pura - a relevância dos "Pontos Focais": em jogos de coordenação, os humanos mostram-se sensíveis a alternativas socialmente salientes e alcançam níveis consideráveis de coordenação e, consequentemente, de ganhos - a violação da "Invariância" dos rótulos das alternativas permite mais e melhores ganhos do que seria expectável para jogadores estritamente "racionais". O caso do jogo da centopeia: a solução "racional" para o jogo, obtida por Indução Retrógrada (Backward Induction), prevê que o primeiro jogador pare o jogo na primeira jogada (ambos os jogadores ganham 0); os humanos tendem a cooperar iterativamente e, no final, ganham somas consideráveis. O exemplo do jogo "Concurso de Beleza": jogadores racionais, devido à assunção de "Conhecimento Comum", deveriam escolher o número 0; jogadores humanos antevêm apenas uma ou duas deduções mas, como as suas escolhas afectam o resultado do jogo, têm melhores probabilidade de ganhar que um jogador estritamente "racional". Os exemplos dos Jogo do Ultimato e Jogo do Ditador: os humanos, violando os trâmites da "racionalidade", tendem a rejeitar ofertas percebidas como "injustas" como forma de punição; antevendo isso, os jogadores tendem a fazer ofertas que possam ser tomadas como "justas". Do "como" ao "porquê" do raciocínio - processos de Tipo II como ferramenta mental argumentativa, em contextos sociais: viés de confirmação como característica de um sistema argumentativo e não como uma falha ou erro; o efeito de bónus de grupo e as suas causas e processos subjacentes.
Bibliografia:
Fundamental
Colman A. M. (2003). Cooperation, psychological game theory, and limitations of rationality in social interaction. The Behavioral and brain sciences, 26(2), 139–198. https://doi.org/10.1017/s0140525x03000050
Mercier, H., & Sperber, D. (2011). Why do humans reason? Arguments for an argumentative theory. The Behavioral and brain sciences, 34(2), 57–111. https://doi.org/10.1017/S0140525X10000968
Programa de Pesquisa de Heurísticas Rápidas e Frugais
24 Fevereiro 2025, 09:30 • Nuno Alexandre De Sá Teixeira
A agenda de pesquisa das heurísticas e viéses como ancorada na concepção clássica de "racionalidade" - os humanos recorrem a heurísticas, que conduzem a viéses e erros, devido a limitações cognitivas: as heurísticas são concebidas como a segunda melhor alternativa, sendo a primeira a racionalidade clássica (mais informação e maior poder de computação são sempre melhores e mais desejáveis). O programa de pesquisa das heurísticas rápidas e frugais (fast and frugal) de Gerd Gigerenzer como alternativa ao programa das heurísticas e viéses: à noção de racionalidade clássica opõe a noção de racionalidade ecológica; à mera identificação de heurísticas (one-label theories), opõe uma especificação dos algoritmos heurísticos (regras de pesquisa, de paragem e de decisão); à ideia de que as heurísticas resultam em viéses irracionais, salienta que as heurísticas resultam geralmente em comportamento ecologicamente racional; à definição de "racionalidade" em termos de modelos normativos, opõe a racionalidade como eficácia na adaptação ambiental; à ideia de que as heurísticas são usadas apenas devido a limitações de processamento cognitivo, opõe a noção de que as heurísticas são usadas por serem altamente eicientes e precisas quando consideradas no seu contexto ecológico. As heurísticas rápidas e frugais como assentes na concepção original de Herbert Simon da "racionalidade delimitada" (foco nas limitações cognitivas e na estrutura do ambiente) e no modelo de lente de Egon Brunswick (a questão da validade ecológica das pistas). O exemplo da heurística do olhar na interseção eficaz de um projéctil. As heurísticas concebidas não como regras-de-polegar irracionais mas como algoritmos computacionais adaptados para lidar com problemas não computáveis e/ou excessivamente complexos; oposição ao Homo Economicus do Homo Heuristicus - explora lacunas de conhecimento e estruturas de informação no mundo para maximizar a eficácia e precisão da predição. A mente humana como previligiando a precisão e eficácia preditiva, sacrificando a precisão de modelação do mundo - um modelo enviesado pode, em contextos ecológicos, resultar em melhor precisão e eficácia preditivas. Heurísticas como caixa-de-ferramentas adaptativas. O exemplo da Heurística Take-The-Best e a sua superioridade em estimativas ecologicamente relevantes face a modelos normativos.
Gigerenzer, G., & Brighton, H. (2009). Homo Heuristicus: Why biaseds minds make better inferences. Topics in Cognitive Science, 1, 107-143.
Opcional:
Gigerenzer, G., & Goldstein, D. G. (1996). Reasoning the fast and frugal way: Models of bounded rationality. Psychological Review, 103, 650-669.
Gigerenzer, G. (1997). Bounded rationality: Models of fast and frugal inference. Swiss Journal of Economics and Statistics, 133, 201-218.
Pensamento - Teorias de Processamento Geral
19 Fevereiro 2025, 11:00 • Nuno Alexandre De Sá Teixeira
Sumário:
O impacto na investigação científica do programa de
pesquisa das Heurísticas e Viéses. Introdução às Teorias de
Processamento Dual - propostas iniciais de dois tipos de processos
mentais/cognitivos e resultados empíricos clássicos (a tarefa de Wason,
silogismos válidos-inválidos e o efeito das crenças). Heurísticas como
processos intuitivos (Tipo I) cuja resposta deve ser sujeita a
correcções, com base em processos reflexivos (Tipo II). Critérios
definidores e variáveis correlativas dos processos mentais/cognitivos de
Tipo I e de Tipo II. Processos de Tipo I: não requerem memória de
trabalho e são automáticos/autónomos (critérios definidores); são
rápidos, de alta capacidade, paralelos, não-conscientes, resultam em
respostas potencialmente enviesadas, são contextuais, automáticos,
associativos, baseados na experiência e independentes de capacidades
cognitivas (variáveis correlativas). Processo de Tipo II: requerem
memória de trabalho e fundam-se na desacoplagem cognitiva (raciocínio
abstracto) e simulação mental (critérios definidores); são lentos, de
capacidade limitada, seriais, conscientes, resultam em respostas
potencialmente normativas, abstractos, controlados, baseados em regras,
consequencialistas e correlacionam-se com capacidades cognitivas
(variáveis correlativas). Alguns exemplos de Modelos Duais de Raciocínio
e Tomada de Decisão: Modelos Default-Intervencionistas - as respostas
intuitivas/heurísticas são o processamento default; uma correcção
normativa requer uma intervenção de processos de Tipo II que nem sempre é
espoletada (os Humanos como Forretas Cognitivos - requer um dispêndio
de recursos cognitivos e tempo envolver processos de Tipo II). O Modelo
Dual dos Três Estágios de Pennycook et al (2015). Substratos
neurofisiológicos dos processos de Tipo I e de Tipo II. Os modelos de
processamento dual e juízos morais. Observação empírica de violações do
Princípio da Invariância (Efeitos de Framing) em dilemas éticos. Juízos
utilitaristas enquanto processos de Tipo II e juízos deontológicos
enquanto processos de Tipo I.
Bibliografia:
Fundamental
Kahneman, D. (2011). Thinking, fast and slow. London: Penguin Books. (Parte I)
Evans,
J. St. B. T., & Stanovich, K. E. (2013). Dual-process theories of
higher cognition: Advancing the debate. Perspectives on Psychological
Science, 8, 223-241
Opcional
Greene, J. (2013). Moral Tribes: Emotion, reason, and the gap between us and them. Atlantic Books.
Haidt. J. (2012). A Mente Justa: Porque as pessoas boas não se entendem sobre política e religião. Edições 70.